Filosofia e a Existência de Deus - 2a. PARTE








(continuação)


“Assinatura de Deus”

Resta o argumento teológico. Este permanece firme como sempre, defendido, em várias formas, por gente como Robin Collins, John Leslie, Paul Davies, William Dembski e Michael Denton. Ultimamente, com o movimento denominado Projeto Inteligente, boa parte destes pesquisadores prosseguem na tradição de encontrar exemplos da “assinatura de Deus” nos sistemas biológicos. Todavia, o ponto sensível da discussão enfoca a recente descoberta da sintonia do cosmos com a vida. Essa sintonia assume dois aspectos – primeiro, porque quando as leis da natureza são expressas em equações matemáticas, como a da gravidade, apresentam certas constantes. Logo, não determinam esses valores. Segundo, há certas variantes arbitrárias que fazem parte das condições iniciais do universo – a quantidade de entropia, por exemplo. Essas constantes e quantidades se encaixam em um alcance extraordinariamente pequeno de valores que permitem a existência de vida. Se fossem alteradas em valor inferior ao da grossura de um fio de cabelo, o equilíbrio que permite a existência e sustentação da vida seria destruído – ou seja, não haveria vida.

A essência dessa argumentação é de que a existência do universo, tal qual o conhecemos, decorre do acaso ou de um projeto. Quanto ao acaso, teóricos contemporâneos cada vez mais reconhecem que as evidências contra a sintonia são quase insuperáveis, a não ser que se esteja pronto a aceitar a hipótese especulativa de o nosso universo ser apenas um membro de um hipotético conjunto infinito e aleatório de universos. Nesse conjunto, pode-se imaginar qualquer tipo de mundo físico, e obviamente só encontraríamos um onde as constantes e quantidades são compatíveis com nossa existência.

Claro que todos esses argumentos são objeto de réplicas e contra-réplicas – e ninguém imagina que algum dia se chegará a consenso. Na verdade, há sinais de que o gigante adormecido do ateísmo, após um período de passividade, vai despertando de sua soneca e entrando na briga. J. Howard Sobel e Graham Oppy escreveram livros grandes e eruditos criticando os argumentos da teologia natural, e a Cambridge University Press lançou Companion to Atheism (“Companheiro do ateísmo”) no ano passado. De toda forma, a simples presença do debate na academia prova como é saudável e vibrante a visão de mundo teísta hoje.

Relativismo
Muita gente pode pensar que a reaparição da teologia natural em nossos dias seja apenas trabalho desperdiçado. Afinal, não vivemos em uma cultura pós-moderna, onde o apelo a argumentos apologéticos como esses deixaram de ser eficazes? Hoje, não se espera mais que argumentos para defender o teísmo funcionem. Não por outra razão, cada vez mais cristãos apenas compartilham sua história e convidam outros a participar dela.

Esse tipo de raciocínio carrega um diagnóstico errado, desastroso para a cultura contemporânea. A suposição de que vivemos em uma cultura pós-moderna não passa de mito. Na verdade, esse tipo de cultura é impossível; não poderíamos viver nela. Ninguém é relativista quando se trata de ciência, engenharia e tecnologia – o relativismo é seletivo, só surge quando o assunto é religião e ética. Mas é claro que isso não é pós-modernismo; é modernismo! Não passa do antigo verificacionismo, que sustentava que tudo que não se pode testar com os cinco sentidos é uma questão de preferência pessoal.

Fato é que vivemos em uma cultura que continua profundamente modernista. Se não for assim, não haverá explicação para a popularidade do novo ateísmo. Dawkins e sua turma são inegavelmente modernistas e até científicos em sua abordagem. Na leitura pós-modernista da cultura contemporânea, seus livros deveriam ter sido como água sobre pedra – porém, as pessoas os agarram ansiosas, convictas de que a fé religiosa é tolice.

Sob essa ótica, adequar o Evangelho à cultura pós-moderna leva à derrota. Deixando de lado as armas da lógica e da evidência, deixaremos o modernismo nos vencer. Se a Igreja adotar esse curso de ação, a próxima geração sofrerá conseqüências catastróficas. O Cristianismo se tornará apenas mais uma voz em meio a uma cacofonia de vozes que competem entre si – cada uma apresentando sua narrativa e alegando ser a verdade objetiva sobre a realidade. Enquanto isso, o naturalismo científico continuará a moldar a visão da cultura sobre como o mundo realmente é.

Uma teologia natural consistente é bem necessária para que a sociedade ocidental ouça bem o Evangelho. Em geral, a cultura do Ocidente é profundamente pós-cristã – e este estado de coisas é fruto do iluminismo, que introduziu o fermento do secularismo na cultura européia. Hoje, esse fermento permeia toda a sociedade ocidental. Enquanto a maioria dos pensadores originais do iluminismo eram teístas, os intelectuais de hoje, majoritariamente, consideram o conhecimento teológico impossível. Aquele que se dedica ao raciocínio sem vacilar até o fim acabará ateísta – ou, na melhor das hipóteses, agnóstico.

Entender nossa cultura da forma correta é importante, porque o Evangelho nunca é ouvido isoladamente, mas sempre no cenário da cultura corrente. Uma pessoa que cresce em ambiente cultural que vê o Cristianismo como opção viável estará aberta ao Evangelho – mas, neste caso, tanto faz falar aos secularistas sobre fadas, duendes ou Jesus Cristo! Cristãos que depreciam a teologia natural porque “ninguém se converte com argumentos intelectuais” têm a mente fechada. O valor dessa teologia vai muito além dos contatos evangelísticos imediatos. Ao passo que avançamos no século 21, a teologia natural será cada vez mais relevante e vital na preparação das pessoas para receberem o Evangelho. É tarefa mais ampla da apologética cristã, incluindo a teologia natural, ajudar a criar e sustentar um ambiente cultural em que o Evangelho seja ouvido como opção intelectual viável para pessoas que pensam. Com isso, lhes será conferida permissão intelectual para crer quando seu coração for tocado.

(na próxima postagem, a conclusão da matéria, não perca!)


Troy Anderson é repórter do Los Angeles Daily News.
William Lane Craig é professor pesquisador de filosofia.

--> Folha Gospel

Comentários

  1. A paz do Senhor, irmão Sidnei!!!
    Esta matéria muito me chamou a atenção e mal posso esperar para que você coloque a parte final. Parabéns!!!
    Precisamos de textos como estes em sites cristãos e blogs. Que o Senhor derrame sobre Ti mais e mais sabedoria.

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