Igreja cédula


“A nossa igreja funciona, nós sabemos como colocar Deus para trabalhar para você!" esbraveja no rádio e na televisão um famoso líder de uma grande igreja neo-pentecostal no Brasil.

Em outras palavras ele pode estar dizendo que as outras igrejas não funcionam, só tomam tempo de você e, ainda mais, elas não conhecem Deus e não sabem como ele funciona, portanto, não conseguem fazer dar certo a religião que pregam.

Por outro lado, esta publicidade tem sérias implicações bíblicas. Por exemplo, onde está na Bíblia que Deus tem de trabalhar para nós? Deus é Deus e nós suas criaturas, ele não precisa ser fiel a nós, mas nós a ele. Aliás, o hino em que diz "Deus é fiel a mim!" precisa de revisão. Neste sentido, o líder espiritual daquela igreja prega um evangelho essencialmente humanista e antropocêntrico e é nesta base que, para ele, Deus funciona.

Ainda é preciso considerar que o deus daquele líder só funciona em troca de dinheiro, é um Deus cédula. Toma lá, dá cá. A mensagem dele é que se você quer uma bênção maior, precisa fazer um sacrifício maior. Para ele "sacrifício" é sinônimo de cédula, dinheiro vivo.

Desta forma, toda vez que você quer receber algo de Deus e fica procurando o que pode fazer para agradá-lo, está seguindo o mesmo "protocolo" de acesso a Deus. É como uma negociata, você quer alcançar uma bênção, resolver um problema, então faz uma proposta para Deus, uma promessa - se você me der isso, eu dou aquilo. Ai o Deus cédula vai ver se compensa e lhe responde. Se não der certo, você aumenta a proposta ou dificulta a penitência, para ver se pode agradá-lo.

Se você, por exemplo, dá o dízimo ou alguma contribuição para a igreja seguindo este esquema está fazendo a mesma coisa. Sei que você vai mencionar Malaquias 3.10. E eu lhe peço para lembrar Lucas 9.23, quando Deus não quer apenas os seus 10%, mas 100% de sua vida. Vou lembrar ainda para você que Deus ama a quem dá com alegria (2 Co 9.7) e que a piedade aceita por Deus é com contentamento (1 Tm 6.6) e não por obrigação e, ainda mais, que as nossas justiças são como trapos de imundícia perante Deus (Isaías 64.6), isto é, por mais justo que eu queira ser, ainda assim, não consigo alcançar a justiça e retidão de Deus. Malaquias é da lei, o evangelho é da graça. Esqueça os 10% e dê 100%, tudo é de Deus.

As misericórdias do Senhor são a causa de não sermos consumidos, elas se renovam a cada manhã (Lm 3.22,23). Eu não mereço nada, só devo gratidão ao Deus que me salvou e me revigorou com a sua graça. Tendo alimento, roupa e moradia, já é o suficiente (1 Tm 6.7,8).

Lourenço Stello Rega


Leia também:

O EVANGELHO DA FUNCIONALIDADE

Comentários

  1. gostei do clima do seu blog! bom gosto!!! parabens!! temática de religião semprre me interessou. se interessar trabalho temas de história. desculpa a invasao. abraços

    leandro cardoso.

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  2. Leandro,

    Muito obrigado pela visita, pelo incentivo e pela disposição. Também curto temas relacionados a história, e tenha certeza que te procurarei para trocarmos algumas ideias a respeito.

    Abraço!

    SM

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