Por que você não quer mais ir à igreja? – É possível viver a essência do cristianismo dentro das igrejas institucionais?


Wayne Jacobsen e Dave Coleman em seu novo livro publicado pela editora Sextante, em uma ficção interessante e bem-humorada contam a história do pastor Jake Colsen, um ex-profissional do ramo imobiliário que decide dedicar-se em tempo integral para servir a sua instituição religiosa, e que em seguida acaba sendo decepcionado por ela. Nesse ínterim, Jake conhece de forma inusitada um cristão por nome João, que devido o seu poder de persuasão em relação à pregação do evangelho e do amor de Deus, o leva a pensar que seja a aparição do apóstolo João registrado no Novo Testamento, sentimento que aumenta cada vez mais na medida em que os primeiros encontros se realizam devido a forma com que se apresentava repentinamente em ocasiões e locais de forma inesperada. Como se conhecesse o estado espiritual de Jake, João o estimula a viver sua vida cristã de forma plena, rejeitando o formalismo da religião intitucionalizada, para obter uma verdadeira comunhão com Deus e com o próximo, a fim de experimentar o verdadeiro sentido do amor de Deus em sua vida.

Nos treze capítulos do livro, João conclama Jake a abandonar o formalismo exacerbado da igreja como instituição humana, propondo a idéia de que a vida cristã independe das instituições religiosas, mostrando as fragilidades de um sistema bem encenado com a finalidade de apenas manipular, controlar e promover “programas” para manter os fíeis dentro de um sistema falido e sem vida espiritual. Uma trama com casos de corrupção ministerial, exclusivismo eclesiástico e diversas manifestações de sentimento faccioso e egocêntrico, a obra tem por objetivo mostrar a possibilidade de se viver a vida cristã fora da tradicional igreja institucionalizada como conhecemos de forma livre e comunitária, além é claro, de propor a idéia de que a vida cristã dentro de instituições tradicionais é possível desde que esteja dentro dos padrões bíblicos adotados pela igreja cristã no primeiro século.

No final do livro, os autores apresentam um anexo em forma de perguntas e respostas onde discursam sobre os fatores diversos que os levaram a acreditar que a vida cristã em grupos, principalmente residenciais, fora da igreja tradicional seja mais proveitoso que em grandes instituições cristãs. Embora apresentem as suas opiniões favoráveis em relação ao tema em questão, são enfáticos ao afirmar que o rompimento com as instituições pode não ser a solução para todos os problemas, e de que cada cristão precisa estar dentro da vontade de Deus para realização de seus propósitos.

Rompimento é a solução?

A proposição do rompimento com instituições religiosas para viver a vida cristã em comunidades e residências em pequenos grupos não é nova, mas nos últimos anos tem experimentado um crescimento vertiginoso principalmente nos EUA e na Europa, e há alguns anos começou a florescer também no Brasil. Os aderentes desse novo movimento dentro da igreja cristã são cristãos decepcionados com o cristianismo institucional proposto pelas denominações evangélicas que pertenciam, após tentativas de recomeço em diversas denominações. É muito comum encontramos casos de pessoas que se decepcionaram com líderes, programas institucionais e com outros cristãos, e decidiram viver a vida cristã sem necessariamente freqüentarem as reuniões de uma denominação específica, sem portarem uma credencial de membro, e quando questionados sobre a igreja a que pertencem geralmente declaram ser crentes sem igreja.

No aspecto espiritual, o fato de se viver a vida cristã em comunidades fora de uma instituição religiosa não se constitui em si um problema. Foi assim que os cristãos do primeiro século se reuniam, e também durante os terríveis dias de perseguição do império romano, como também em países comunistas, socialistas e de regime ditatorial, e que ainda hoje é realidade principalmente em paises de maioria muçulmana. No entanto, o fato da possibilidade de se viver a vida cristã fora de uma denominação específica fora desse contexto imposto pelos regimes citados, pode tornar-se num problema de alcance inimaginável para as denominações e lideranças da igreja evangélica, o que não contribui para o engrandecimento do reino de Deus e muito menos para a própria edificação espiritual do crente por tratar-se de um modismo, e por isso, destituído de autênticos propósitos espirituais.

Havemos de reconhecer que o evangelho não é propriedade das religiões institucionais, e de que também os movimentos evangélicos não são perfeitos, e de que ainda existam muitos cristãos dentro das instituições que não possuem nenhum compromisso com a comunhão cristã, inclusive líderes. No entanto, a busca individual pelo aperfeiçoamento espiritual deve ser uma meta de cada cristão em seu dia a dia com a finalidade do estreitamento do contato autêntico com Deus e com seus demais filhos, a fim de que divisões, separatismos e facções não tenham lugar entre os crentes.

Enfim, Jacobsen e Coleman foram felizes ao declarar que a realidade que a igreja precisa de fato experimentar é a essência da vida em Cristo, independente de estarem dentro de uma igreja institucionalizada ou não. O fato de pertencermos a uma denominação bem estruturada, organizada, com programação diversificada para faixas etárias e públicos diferenciados, com reuniões regulares, atividades que ocupam horas e horas de nosso trabalho e dedicação, estatutos e regimentos de conduta não é suficiente para levar-nos a uma vida plena em Cristo se não possuirmos o propósito de O conhecermos, de sermos como Ele é, e de vivermos para Ele. Por outro lado, aqueles que acreditam que essa possibilidade exista apenas nas comunidades fora dos padrões tradicionais da instituição, e de que essa é a “onda” do momento, ainda não despertaram para a realidade de que cada cristão é um membro do corpo de Cristo, e que por isso, deve estar bem ajustado a ele a fim de que a vontade de Deus seja realizada sobre sua vida para aquilo que for útil.

Comentários

  1. Sidnei

    O grande problema que eu vejo nas igrejas hoje em dia, é que a maioria dos cristãos não lêem mais a Bíblia Sagrada. Costumam abrí-la na hora do sermão, quando o orador lê um trecho dela.

    Assim sendo, poucos conhecem as Escrituras Sagradas, pelo contato direto. As noções bíblicas que possuem são contruídas segundo o parecer de terceiros.

    É triste, também, encontrar os contumazes leitores de livros evangélicos, que nunca leram do Gênesis ao Apocalipse, mas já gabam-se de haver lido mais de 66 obras literárias.

    Em suma, a cristandade não conhece a Palavra de Deus, de fato!

    As Escrituras Sagradas foram escritas para que o cristão tenha seu contato direto com elas! Depender de terceiros é comer pela boca alheia. Nada natural!

    Eliseu Antonio Gomes
    http://belverede.blogspot.com

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