Integridade

Claudionor Correia de Andrade

Nestes dias que se vão caracterizando pela impiedade e por um arrebatado culto às trevas; nestes dias de amor frio e fervor moribundo, como ministros de Cristo somos instados a responder à esta pergunta: "ainda reténs a tua integridade?", Jó 2.9. Dessa resposta, está a depender não somente o êxito de nosso ministério, mas principalmente o nosso destino eterno.

Diante do desafio, Jó não se permitiu vacilar; deixou bem claro que a sua integridade era inegociável. Embora coberto de úlceras e já coberto de angústias, não traficou a sua integridade como homem de Deus. O patriarca não hesitou diante do desafio. E quanto a nós? Como nos haveremos diante desta tão inquietante e já urgentíssima pergunta?

A sua vida pessoal é íntegra? O seu ministério é íntegro? É íntegra a sua mensagem? E a sua postura como homem de Deus? É politicamente correta? Ou reconhecidamente íntegra?

De nada adiantar-nos-á aliviar uma resposta socialmente aceitável. O momento é critico! Não contempla rodeios nem hipocrisias. Exige decisão. Há somente duas respostas cabíveis: sim ou não. O que passar disto é dissimulação e consumada iniqüidade.

Vida íntegra

Não podemos dissociar a vida pessoal da ministerial. O êxito desta, muito depende da postura daquela. Se a primeira não for eloqüente em virtudes, a Segunda não convencerá com as palavras. Se a tribuna do íntimo não tiver argumentos, o publico ficará sem respostas.

Desgraçadamente, muitos são os púlpitos que já não passam de meras plataformas. Pois o mensageiro, ao separar o ministério de sua vida particular, não quis atentar a esta incorrigível realidade: ambos são tópicos do mesmo sermão; formam um só discurso. Nossa vida privada não é apenas o exórdio da mensagem; é também a sua conclusão. É a peroração que convence. É o apelo respondido.

Se o pregador não vive bem com a esposa, se não a respeita, se alimenta contatos equívocos com outras mulheres, como poderá conduzir uma cerimônia de casamento? Como poderá dirigir bodas de prata e de ouro das ovelhas se as suas não passam de um mero papel quando deveriam Ter consistência do diamante? Estaríamos nós na mesma condição dos sacerdotes a quem Malaquias censurou? Brada o profeta: "O senhor foi testemunha entre ti e a mulher da tua mocidade, com a qual tu fostes desleal, sendo ela tua companheira e a mulher do teu concerto", Ml 2.14.

Se o pregador não ordena os filhos, como poderá aconselhar os adolescentes e os jovens? Seus filhos, pastor, já não vêem a igreja do reino de Deus; vêem-na como se fora uma mera capitania hereditária. Por isso, os abusos! Eles lançam mão da tesoura sagrada; você nada diz. Oprimem os santos; você não os disciplina. Agem imprudentemente; você não os censura. Logo estarão oferecendo fogo estranho no altar, e você não estará presente para evitar que sejam consumidos pela ira divina.

Se o mensageiro burla o tesouro, e em tudo busca duvidosas vantagens, como poderá ensinar o dízimo? As ovelhas sempre dão a Deus o que é de Deus, mas você nega tanto o que é de Deus quanto o que é de César. Já não se contenta com a porção cotidiana. Se os filhos de Eli roubavam os fiéis com o garfo, desfalca você a igreja de Cristo com o tridente do usurpador ( 1Sm 2.13).

Se o arauto de Deus vive de ostentação, como poderá discorrer sobre a manjedoura? A igreja precisa de pastores, não de reis que, desprezam a singeleza dos lírios, já não se conformam com o próprio campo. Quando censurado, o que você diz? Alega que, como filho de Deus, precisa viver como príncipe. Veja todavia como estão as suas ovelhas! E as viúvas que você não quis socorrer? Os órfãos que se recusou a amparar? A dor que jamais aliviou? Enquanto você vive como príncipe, suas ovelhas gemem como vassalas de sua descabida ostentação.

Se o atalaia menospreza as honras do ministério cristão, como poderá enaltecer a cidadania celeste? O Senhor o chamou, pastor, para o ministério da palavra, mas você tem obsessão pelo ministério público. Quer uma cadeira no parlamento, e reputa por nada a cátedra doutrinal que, em sua igreja, está sempre vazia. Deixe a política aos políticos; zele pelo bem comum das ovelhas que o senhor lhe entregou.

Se o pregador, enfim, não prega com a vida terrena, como poderá pregar a vida eterna? O senhor Jesus viveu o que pregava, entregando por nós a própria vida. É por isso que, mesmo calado, incomodava. E, você? Ainda que brade, já não convence. É nuvem sem água; troveja, mas não chove testemunho.

Ministério íntegro

Se a sua vida não é íntegra, como poderá ser íntegro o seu ministério? Você não se contentou em ser obreiro; quis logo o titulo de ministro. Esqueceu-se porém de algo básico: a essência do ministério cristão é o serviço sacrificial e amoroso que se deve prestar a Deus.

E, já ministro, o que fez?

Ao invés de negociar os talentos, fez negociata das coisas santas. Adulou para subir, mas continuava a descer no conceito daquele que tudo vê e tudo sonda. Burlou as normas; desrespeitou o ministério e ignorou as convenções. E, já à frente da igreja descobriu-se sem o cajado do pastor. Administra os bens da igreja, mas jamais pastoreou o rebanho de Cristo. Não é pastor; é mercenário.

Se a sua vida e ministério não são íntegros, como esperar que a sua mensagem o seja? Você já não assume o púlpito como homem de Deus; agora você é homem do povo. Já não lhe interessa o que a igreja necessita receber. Você só fala o que o grupo majoritário e poderoso quer ouvir.

Do púlpito você decreta a prosperidade, e nunca se viu tanta miséria espiritual em seu redil. De tanta confissão positiva, você já nem parece guia espiritual: é mais guru que pastor. Antes fosse apenas guru; sua condenação seria menor. Menospreza o pecado, dizendo já estarem todas as ovelhas predestinadas à vida eterna. Ilude-as com uma falsa esperança; engana-as com uma tecnologia que não é nem próspera nem positiva, mas duas vezes maldita.

Não satisfeito em enganar o rebanho, ainda franqueia o púlpito aos lobos e chacais. Depois, reparte com eles o despojo. Com a sua palavra fácil e azeitada, você tira tudo das ovelhas (Sl 55.21). mas chegará o dia em que, para o seu desespero, não haverá nem a lã nem o leite; haverá apenas a necessidade serôdia.

O seu púlpito não é proclamação; é uma peça de marketing. Lembra-se dos não regenerados que você promoveu? Dos impenitentes a que estendeu a destra da comunhão? Dos poderosos que adulou? Dos corruptos que acolheu como se fosse do senhor ungidos? O seu marketing foi infalível; o inferno está mais popular que nunca. O seu rebanho já não sabe a diferença entre o santo e o profano.

E a sua mensagem alternativa? Não tem a agonia do Getsêmani, nem a paixão no calvário. Mas também não possui a glória da ressurreição nem a esperança do arrebatamento.

Sua mensagem alternativa deixou o rebanho que Deus lhe confiou sem qualquer opção.

No púlpito você lembra de tudo, menos da integridade da mensagem. Que tal colocar-se na porta do templo e sofrer as afrontas todas de Jeremias? Ou ser incompreendido como Amós? Ou ainda oferecer a vida por libação como o apóstolo Paulo? Nenhum destes pregou uma mensagem alternativa; a única alternativa da palavra de Deus é a obediência.

Qual a sua postura como homem de Deus? É politicamente correta? A do anjo da igreja de Éfeso também, mas ele não tinha mais o primeiro amor. Também o anjo de Laudicéia tinha uma postura politicamente correta, o senhor porém estava prestes a vomitá-lo. A postura de Iscariotes era de igual modo correta, contudo ele não titubeou em vender o mestre. No momento em que Pilatos buscava ser politicamente correto, soltou um homicida, e entregou um inocente à morte.

Nossa postura, como de homens de Deus, não deve limitar-se ao politicamente correto; tem de ser reconhecidamente justa e íntegra. Por isso, mais do que nunca, temos de responder a essa pergunta: "Ainda reténs a tua integridade"?

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