Demagogia e políticas públicas de educação



Sidnei Moura

Observei  com bastante curiosidade o descontentamento de alguns petistas ao lerem na Folha desta segunda (8 de dezembro) entrevista do secretário municipal de educação de São Paulo afirmando que, embora o município tenha tomado no final do ano passado a decisão de suspender a progressão continuada de alguns anos no ensino fundamental, nem todos os alunos que apresentaram desempenho negativo durante o ano letivo de 2014 serão reprovados. Enquanto observava, lembrei-me do processo eleitoral deste ano em que o candidato petista Alexandre Padilha (que amargou o terceiro lugar entre os eleitores na corrida ao governo do estado) repetia com veemência que, uma de suas principais ações imediatas caso fosse eleito seria a revogação da progressão continuada nas escolas da rede estadual de São Paulo. Mesmo não suportando tanta demagogia, enquanto assistia ao programa eleitoral petista muitas vezes cai em gargalhadas com o discurso inflamado de Padilha, para quem a progressão continuada era o pior de todos os males da educação no país. 

Quem convive com a realidade de se ensinar na rede pública, seja ela da esfera municipal ou estadual, sabe que a progressão continuada é apenas um dos muitos problemas do sistema, e que centralizar o discurso de mudança em cima dele não passa de demagogia barata. O secretário de educação do município de São Paulo chegou a essa conclusão porque deve ter percebido que o sistema precisa de uma série de reformas que, com o passar dos anos não foram feitas de forma adequada, e que hoje o sistema está inchado, o que exige que outras medidas, ainda que paliativas, precisem ser feitas. 

O descaso com a educação que transformou a escola pública brasileira em uma das mais deficitárias do mundo não se resolverá como em um passe de mágica como propunha Padilha e Haddad, mas com reformas profundas que outorguem às famílias por meio da conscientização e responsabilização a participação na vida escolar de seus filhos, que prepare melhor e dignifique a carreira do magistério e ofereça condições para que o aluno aprenda de fato, bem como a mudança de paradigmas dos programas sociais que ainda persistem em não prever a inserção e inclusão por meio da aquisição real do conhecimento e bom desempenho escolar, mas apenas pela frequência. 

A progressão continuada continuará sendo um problema sério para a educação enquanto continuar a ser administrada da maneira como vem sendo feito, e a demagogia barata e oportunista não será o instrumento adequado para combatê-lo.

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