Igreja Deus é Amor proíbe “retetés” e outras práticas não ortodoxas em seus cultos

Fundada em 1962, a igreja Pentecostal Deus é Amor do Missionário David Miranda é hoje uma das maiores denominações evangélicas do país. Oriunda dos movimentos de cura divina da segunda safra do pentecostalismo brasileiro, a igreja Deus é amor chega ao limiar de seu jubileu de ouro mantendo as características que a tornaram conhecida: seu modelo de liderança centralizado em uma única pessoa (seu fundador e presidente vitalício); a extrema valorização dos usos e costumes (cujas proibições se estendem a todas as áreas da vida de seus fieis, incluindo a proibição de visitar ou participar de eventos em outras denominações); o forte uso do rádio como instrumento midiático de suporte as atividades desenvolvidas pela igreja (“império” este que agora ameaça ruir diante de recorrentes escândalos envolvendo “laranjas” e novas políticas de concessão de serviços de radiodifusão do governo federal) e a falta de compromisso com o ensino bíblico e teológico formal e sistemático, o que a difere das demais denominações oriundas dessa segunda geração de pentecostais.

Como conseqüência da ausência da prática do ensino formal e sistemático das escrituras, a Igreja Deus é Amor acabou cedendo por longos anos a uma série de novos modismos que, aliados a falta de conhecimento bíblico e a centralização radical da pregação em temas subalternos referentes aos usos e costumes e ênfase demasiada em milagres e experiências pessoais, encontraram em seu seio um campo fértil para seu desenvolvimento. Foi assim com o “mistério do assopro”, com a “foto da língua de fogo”, com a “teologia da prosperidade” , e nas duas últimas décadas com movimentos pra lá de bizarros como os chamados movimentos do “reteté”, do “cair no espírito” e da realização de “campanhas” com temáticas extravagantes, bem como outras práticas litúrgicas nada ortodoxas. No entanto, no dia 06 de março de 2011 em reunião geral com obreiros de todo Brasil a diretoria da igreja deliberou a decisão de posicionar-se contra tais modismos, o que resultou numa circular proibindo terminantemente tais movimentos e atitudes dentro da denominação, que por sí causou efeitos inimagináveis até então, cujas conseqüências, diversas, ainda não podem ser mensuradas.

A decisão da diretoria da igreja causou admiração, visto que essa é a primeira vez que a igreja se posiciona de forma global sobre um tema polêmico, atitude que foi comemorada pela ala mais intelectualizada e teologicamente mais esclarecida da igreja, porém criticada pela ala menos esclarecida e que de tais práticas vem se utilizando nos últimos anos para incrementar seus cultos, vigílias, campanhas e concentrações (Veja aqui um vídeo de uma das igrejas do ministério onde as práticas proibidas incrementam as reuniões da denominação).

Abaixo, reproduzi os trechos da circular da diretoria com os principais itens relacionados ao tema, suprimindo os demais. Para melhor visualização, clique sobre a imagem para ampliar.

Como afirmei, a atitude da igreja frente a essa nova empreitada gerará conseqüências as quais ainda é difícil mensurar, no entanto há rumores de desligamentos de obreiros e descontentamento da parte de membros que se deixavam levar por esses e outros modismos. Eu pessoalmente tive conhecimento de que pessoas que desenvolviam seu ministério por lá incrementando suas atividades com as práticas proibidas pela diretoria falam em deixar a denominação em busca de uma igreja onde “tenham liberdade de trabalhar”. Infelizmente há também a informação de que muitos deles em várias regiões do país estão simplesmente se omitindo em transmitir a seus obreiros locais e liderados as deliberações da diretoria presentes na circular com a finalidade de “abafar” as decisões tomadas, a fim de que seus ”ministérios” comprometidos com tais práticas não sejam censurados.

Recentemente participei de um debate sobre o assunto em uma rede social com integrantes da igreja Deus é Amor que discordam dessas proibições. Segundo eles “não se pode controlar o espírito” e aqueles que fizerem uso da proibição da diretoria estarão na verdade “blasfemando contra o espírito santo” (sic). Após declarar minha posição contrária a tais modismos fui amaldiçoado por alguns deles, tachado de “frio”, “carnal” e de “blasfemo” – essa na verdade é uma das características que tais ditos “obreiros” tem em comum mesmo em denominações diferentes: o linchamento daqueles que pensam diferente, pois representam perigo para seus “ministérios”.

Embora reconheça que os principais problemas igreja Deus é Amor nessa área sejam conseqüências da ausência de um posicionamento fundamentado e bem estruturado teologicamente com o passar do tempo, como também da ausência do ensino teológico formal e sistemático nas igrejas, francamente acredito que a igreja acertou em proibir tais práticas. Como afirmei em uma das minhas declarações no debate a que me referi “em uma igreja onde o ensino sistemático da bíblia nunca foi valorizado, a única forma de se evitar o oba-oba é a proibição”. Em resposta a esta minha colocação, uma internauta disse algo bastante simples mas que representa bem a realidade da igreja Deus é Amor. Ela disse “Concordo. Sendo assim, para essas pessoas é a única forma de mostrar a verdade, já que para elas tudo que não é proibido se pode fazer” (sic). De fato, os membros da Igreja Deus é amor não estão acostumados com o ensino bíblico que convence o cristão a abandonar práticas irresponsáveis pela autoridade bíblica, e sim com a proibição – na denominação a proibição se constitui na única ferramenta “pedagógica” capaz de produzir os efeitos que se deseja alcançar.

As circulares com as deliberações da diretoria da IPDA estão disponíveis para consulta no site da igreja: www.ipda.com.br


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