A crise dos imigrantes venezuelanos em Roraima: uma tragédia anunciada
Rodrigo da Silva
A crise em Roraima é, sem dúvida alguma, uma tragédia.
Mas não dessas que pegam a gente de surpresa. Não há nada acontecendo nesse momento que possa causar espanto em quem quer que seja.
Nos últimos anos, não foram raras as vezes em que conservadores e liberais denunciaram as graves violações aos direitos humanos provocadas pelo governo venezuelano, muitas vezes com reações de escárnio por parte de seus opositores - alguns deles escondidos na própria imprensa.
Tudo sempre pode ser resumido a mero "exagero de direita", "propaganda anticomunista" e "macartismo barato".
Pois bem. É preciso que ninguém se esqueça: esta é uma tragédia anunciada. E cheia de culpados.
Maduro foi adotado por lideranças e instituições políticas brasileiras muito tempo depois que esta estrada já havia sido pavimentada.
Foi abraçado por Lula e Dilma. Apoiado por Boulos e Manuela d'Ávila. Referendado por PT, PCdoB e PSOL.
Enquanto trinta milhões de venezuelanos encaram o hálito da morte, condenados ao martírio de uma ditadura, não foram poucos os brasileiros a ridicularizar quem ousou achincalhar seus algozes.
Agora você pode fazer cara de nojinho, achar que tudo não passa de papo de reaça, fingir que não tem nada a ver com isso. Pouco importa.
Tem gente morrendo tentando fugir de um país vizinho ao nosso, buscando escapar de ideias incompreensivelmente ainda populares por aqui. E não faltam lideranças políticas com o sangue deles nas mãos pedindo votos nessa eleição.
Se você se importa com o que acontece em Roraima nesse momento, se compadece do sofrimento daquelas famílias ilhadas em desespero, precisa admitir que também vive num beco sem saída. Não há outro caminho a seguir em outubro, ainda que tais candidatos agora finjam prometer o exato oposto: ou você condena nas urnas quem co-assina esta tragédia, ou assume de vez o papel de cúmplice.
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